Não. Ela não é feita com ingredientes afrodisíacos. Muito menos seu formato é fálico. Que mente poluída, hein? Eu só quis dizer que ela não tem um sabor infantil. Sabe como é? Não poderia ser servida em festa de criança. Algo desse tipo.
Mas aguenta aí. Quero contar a história desde o começo.
Eu tinha 16 anos recém-completados e deixava Brasília para uma experiência única. Indescritível. Inesquecível, como depois me dei conta. Fui fazer intercâmbio. Apesar de ter ido morar nos Estados Unidos, na prática, era como se não tivesse ido. É que meu destino não tinha nada a ver com o que eu conhecia dos norte-americanos. Bom, confesso que, naquela idade, não sabia muito sobre eles. Afinal, Estados Unidos era sinônimo de Disney – e não dá para dizer que o país é exatamente uma terra mágica, não é?
Sabia que não estava indo para um parque de diversões em tamanho real. E também imaginava que não ia encarar algo como uma Nova York em proporções diminutas. Mas não estava preparada para Fort Pierre.
Ainda bem.
Talvez, se tivesse uma noção claríssima de no que estava me metendo, teria sofrido antecipadamente. Como quase todos meus amigos que partiram do Brasil rumo aos EUA. Mas acho que eles sofriam por saudades de casa. Coisa que eu não entendia. Afinal, tínhamos acabado de deixar o solo brasileiro.
De qualquer forma, estava saltitante. Eu parecia um ser em estado de frenesi permanente. Tudo porque, em algumas horas, ia conhecer minha futura cidade de residência pelos próximos 12 meses. Uma cidade pequena (na verdade, do tamanho de uma caixa de fósforos), interiorana, mas simpática. Já imaginava as pessoas, os novos amigos, a escola e as ruas branquinhas de neve (jamais imaginei o frio que vem com a neve. E, quando digo frio, quero dizer frio. Fri-o. Brrrrr).
(Eu e minha irmã americana, Elizabeth)
Morar nos Estados Unidos era como fazer parte de um filme. Em todos os sentidos. Quer dizer, um filme sem glamour, com as ‘dores’ da vida real. Mas com cara de filme.
A escola era igualzinha às retratadas por Hollywood. Um mundinho dividido entre nerds e esportistas, perdedores e populares. Tinha as cobiçadas cheerleaders. E as candidatas a rainha de qualquer evento que surgisse. Tinha o refeitório e os lockers para que cada um guardasse suas coisas no período das aulas.
E tinha a comida.
É. A comida foi um parto. Quer dizer, adolescente adora porcaria. Então, pude satisfazer todos os meus desejos mais gordos. Minha cabecinha obesa vivia em festa. Até que, dois meses depois, cansei. Até minha cabeça obesa gritava por socorro. Eu queria fruta. De verdade. Não aqueles objetos esteticamente perfeitos com gosto de isopor. Queria legumes. Coisas frescas. Sucos de fruta e não refrigerantes com sabor de fruta. Comecei uma busca desesperada por comidas melhores. Antes que enfartasse.
Mas três coisas da fase gorda foram mantidas na minha nova era alimentar. Três coisas ricas em açúcar que tinham conquistado meu total e absoluto respeito. Uma delas, a torta de abóbora.
Sério, nunca pensei que fosse gostar tanto de torta de abóbora. Eu, que não sou de comer abóbora cozida, que rejeito a bichinha sempre que há qualquer outra verdura disponível, acabei rendida, apaixonada, de quatro pelo tal doce, que tem cara e cheiro de Dia de Ação de Graças.
Desde que voltei dos Estados Unidos (lá se vão 16 anos. Lord!), tenho buscado a melhor e mais perfeita receita de torta de abóbora. Eu até achei, mas perdi a danada em uma dessas atualizações de computador.
Enquanto procurava, esta receita aqui bateu à minha porta. Uma torta de abóbora exótica. Adulta. De paladar refinado. Daquelas que causam impacto (seja para o bem ou para o mal). Um doce com muita, muita personalidade.
Espero que gostem.
Torta de abóbora com mel e especiarias
Ingredientes
Massa
1 e ¼ xícara (chá) de farinha de trigo
½ colher (chá) de sal
½ colher (chá) de açúcar
120g de manteiga sem sal gelada picada em cubinhos
2 colheres (sopa) de água gelada
Recheio
1 e ½ xícara (chá) de purê de abóbora*
½ xícara (chá) de mel
1 colher (chá) de canela em pó
½ colher (chá) de gengibre em pó
¼ de colher (chá) de cravo em pó
¼ de colher (chá) de sal
2 ovos levemente batidos
3/4 de xícara (chá) de leite evaporado (ou ¼ de xícara (chá) de creme de leite + ½ xícara (chá) de leite integral)
Modo de Preparo
Em uma tigela grande, misture a farinha, o sal e o açúcar. Adicione os cubos de manteiga e amasse com as pontas dos dedos até formar uma farofa úmida. Junte a água, uma colherada por vez, amassando somente para formar uma bola de massa. Forme um disco com a bola de massa, envolva em filme plástico e leve à geladeira por pelo menos 20 minutos.
(Disco de massa)
Sobre uma superfície limpa e enfarinhada, abra a massa, utilizando o rolo de macarrão, até conseguir um círculo de 28cm de diâmetro. Transfira para uma fôrma de tortas de 22cm de diâmetro, cobrindo o fundo e as laterais. Corte o excesso de massa e aperte as bordas com um garfo ou decore como preferir. Reserve no freezer.
Pré-aqueça o forno a 200 graus.
Em uma tigela grande, usando um fouet ou a batedeira, combine os ingredientes do recheio na ordem listada, batendo até conseguir um creme homogêneo.
Recheie a massa preparada com esse creme. Leve a torta ao forno por 10 minutos, então abaixe a temperatura para 170oC e asse por mais 30 ou 35 minutos, até o recheio firmar nas laterais, mas continuar meio mole no centro.
Deixe esfriar completamente antes de servir.
*Para o purê de abóbora, pique em pedaços uma boa fatia de abóbora de fazer doce, com casca e tudo (aquela abóbora pescoço), e leve ao forno a 180oC por uns 50 minutos, até os pedaços estarem bem macios. Então, retire as cascas e processe a massa cozida de abóbora. Por fim, deixe essa massa escorrer em uma peneira bem fininha, para eliminar o líquido restante.
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